“... que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, legisladores probos e juízes incorruptíveis”. Ministro Celso de Mello
Tomara
assim seja!!
Enorme importância tem o
julgamento do famoso mensalão. Embora muito petista reclame que não foi o
primeiro da nossa história, que seu início está em outros governos e em outros
partidos que também deveriam ser julgados (não discordo)
este mensalão petista e
lulista foi levado a público e a julgamento.
Mais importante do que punir os
infratores é, obviamente, tornar a sociedade consciente do seu próprio comportamento.
Infelizmente ainda vivemos
num tempo onde a sociedade pensa se diferenciar dos seus políticos: critica
seus representantes como se eles tivessem comportamentos diferentes do que
vemos todos os dias nas ruas: de roubos criminosos a pequenos delitos, em
constantes corrupções, infrações e desrespeitos a leis, pessoas, grupos, toda
sociedade é partícipe ativa ou passivamente do comportamento que está sendo
julgado.
Com isso não quero repetir
o bordão de que através do voto escolhemos esses políticos e por isso somos
responsáveis pelos acontecimentos. Muitas vezes sim, mas na maioria das vezes
não. Não tenho culpa ou responsabilidade sobre o comportamento do outro, a não
ser no âmbito da coletividade. Esse paradoxo é que é difícil (todo paradoxo é difícil):
ao mesmo tempo em que sou responsável pelo comportamento coletivo porque somos
todos um e mesmo princípio formando a mesma subjetividade, por outro lado, não
sou absolutamente responsável pelas escolhas individuais, se não pelas minhas.
E minhas escolhas encontram seu limite nessa coletividade. Sou o todo e o um ao
mesmo tempo e em tempos diferentes. (oi?)
Fora da filosofia, ou já
dentro dela, não nos adianta em nada punir os acusados do mensalão e acreditar
que nos livramos da corrupção, ou dos corruptos. O processo de democratização
social é bem mais complexo do que estamos conseguindo administrar no dia a dia.
Vivemos um estado de transição extremamente desconfortável onde as tecnologias
da democracia estão sendo implantadas lentamente, porque são simultaneamente
criadas, porém preenchidas de uma mentalidade habituada à ditadura, viciada
nela, o que é pior. E pra tirar vício há que eliminar dependências.....
Nossos ex-guerrilheiros,
que chegaram ao poder, continuaram a atuar como o faziam sob o poder militar. Na
guerrilha os fins super justificam quaisquer meios. Há quem pense que a
esquerda brasileira chegou ao poder e se contradisse repetindo os
comportamentos corruptos dos governos anteriores. A teoria linconiana do dê
poder ao homem para conhecer seu caráter, contaminou nossos olhos quando vimos
os mesmos gestos em corpos tão distintos!!! Nossa falta de fé na humanidade
(muito justificada pelo que vemos todos os dias) nos fez acreditar que “a
ocasião faz o ladrão” e que nossos ex-guerrilheiros pós torturados cansaram de
sofrer e resolveram também aproveitar a vida fazendo enxoval em Miami,
enriquecendo ilicitamente. Alguns provavelmente, mas nem tudo se resume a isso.
Nossa esquerda não chegou
ao poder pela luta armada ou pela revolução proletária. Escalou cada degrau em
negociações não apenas com a sociedade, mas com a máquina governamental. Ao
contrário de impor pela força seus ideais, prorrogou seus anseios em troca de
avançar pacificamente pelos corredores do poder. Não apenas por tática, mas
porque toda sociedade brasileira, violentamente golpeada pela barbárie collorida,
cedeu. Nossa esquerda, talvez por incompetência, ou talvez por modernização dos
caminhos de socialização dos meios de produção, buscou adaptar-se à máquina
para então modifica-la.
Excesso de adaptação foi
seu pecado!!
De tantos fins que
justificaram os meios, e de tanto que os meios se tornaram o fim (da picada),
não só no Brasil, mas no mundo esse conceito ruiu. O momento é outro apesar de
muita coisa permanecer a mesma. As armas hoje já não significam protesto porque
viraram sinônimo de destruição. As ditaduras, mesmo que proletárias, se
tornaram sinônimo de abominação.
E a corrupção tornou-se um crime hediondo
contra a sociedade!!
O mensalão é uma prática
antiga que de tão antiga era indissociável do sistema político. Embora possamos
acreditar, benevolentes que somos, que o objetivo da corrupção petista era em
benefício do país, já que os apoios comprados seriam para causas sociais, ou
seja, considerando que o partido no poder era um legítimo defensor das causas
sociais e pretendia fazer passar seus projetos, ou ampliar seu poder para
garantir sua governabilidade..... de boa intenção o inferno atingiu
superlotação.
Nosso comportamento é tão
viciado que nem conseguimos acreditar plenamente nos próprios juízes que julgam
esse caso porque não seria surpreendente tentativas de suborno do judiciário,
já que vemos isso diariamente. Todos somos suspeitos até que se prove o
contrário!!
E é essa consciência o
fator mais importante nesse julgamento: que observemos nossos próprios atos. A
lavagem cada vez maior de políticos corruptos nos últimos anos, derrubando
mitos, tem mais importância no reflexo que consegue no comportamento de cada um
da coletividade, do que punir esta ou aquela pessoa.
Reitero que infelizmente
ainda vamos caminhar muito até que paremos de nos distinguir dos nossos
representantes; até que a sugestão de Gandhi seja aplicada de mudarmos em nós
mesmos as mudanças que queremos ver nos outros. Mas todas as caminhadas começam
por algum lugar e a estrada que leva à integridade começa a ser construída. Não pelo falso moralismo desse atual judiciário, mas porque a escuridão da tirania já perde seu breu.
Que não só os corruptos
sejam punidos mas que a corrupção seja substituída como padrão de conduta por
atitudes de respeito ao humano, ao social, ao coletivo. E, principalmente, TODO
ESSE DINHEIRO QUE ESCOA NESSES ESQUEMAS MILIONÁRIOS SEJA REVERTIDO EM
BENEFÍCIOS SOCIAIS, NA SAÚDE, EDUCAÇÃO, HABITAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE.
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