quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Da utilidade do julgamento do mensalão



“... que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, legisladores probos e juízes incorruptíveis”.
Ministro Celso de Mello

Tomara assim seja!!

Enorme importância tem o julgamento do famoso mensalão. Embora muito petista reclame que não foi o primeiro da nossa história, que seu início está em outros governos e em outros partidos que também deveriam ser julgados (não discordo)
este mensalão petista e lulista foi levado a público e a julgamento.

Mais importante do que punir os infratores é, obviamente, tornar a sociedade consciente do seu próprio comportamento.

Infelizmente ainda vivemos num tempo onde a sociedade pensa se diferenciar dos seus políticos: critica seus representantes como se eles tivessem comportamentos diferentes do que vemos todos os dias nas ruas: de roubos criminosos a pequenos delitos, em constantes corrupções, infrações e desrespeitos a leis, pessoas, grupos, toda sociedade é partícipe ativa ou passivamente do comportamento que está sendo julgado.

Com isso não quero repetir o bordão de que através do voto escolhemos esses políticos e por isso somos responsáveis pelos acontecimentos. Muitas vezes sim, mas na maioria das vezes não. Não tenho culpa ou responsabilidade sobre o comportamento do outro, a não ser no âmbito da coletividade. Esse paradoxo é que é difícil (todo paradoxo é difícil): ao mesmo tempo em que sou responsável pelo comportamento coletivo porque somos todos um e mesmo princípio formando a mesma subjetividade, por outro lado, não sou absolutamente responsável pelas escolhas individuais, se não pelas minhas. E minhas escolhas encontram seu limite nessa coletividade. Sou o todo e o um ao mesmo tempo e em tempos diferentes. (oi?)

Fora da filosofia, ou já dentro dela, não nos adianta em nada punir os acusados do mensalão e acreditar que nos livramos da corrupção, ou dos corruptos. O processo de democratização social é bem mais complexo do que estamos conseguindo administrar no dia a dia. Vivemos um estado de transição extremamente desconfortável onde as tecnologias da democracia estão sendo implantadas lentamente, porque são simultaneamente criadas, porém preenchidas de uma mentalidade habituada à ditadura, viciada nela, o que é pior. E pra tirar vício há que eliminar dependências.....

Nossos ex-guerrilheiros, que chegaram ao poder, continuaram a atuar como o faziam sob o poder militar. Na guerrilha os fins super justificam quaisquer meios. Há quem pense que a esquerda brasileira chegou ao poder e se contradisse repetindo os comportamentos corruptos dos governos anteriores. A teoria linconiana do dê poder ao homem para conhecer seu caráter, contaminou nossos olhos quando vimos os mesmos gestos em corpos tão distintos!!! Nossa falta de fé na humanidade (muito justificada pelo que vemos todos os dias) nos fez acreditar que “a ocasião faz o ladrão” e que nossos ex-guerrilheiros pós torturados cansaram de sofrer e resolveram também aproveitar a vida fazendo enxoval em Miami, enriquecendo ilicitamente. Alguns provavelmente, mas nem tudo se resume a isso.

Nossa esquerda não chegou ao poder pela luta armada ou pela revolução proletária. Escalou cada degrau em negociações não apenas com a sociedade, mas com a máquina governamental. Ao contrário de impor pela força seus ideais, prorrogou seus anseios em troca de avançar pacificamente pelos corredores do poder. Não apenas por tática, mas porque toda sociedade brasileira, violentamente golpeada pela barbárie collorida, cedeu. Nossa esquerda, talvez por incompetência, ou talvez por modernização dos caminhos de socialização dos meios de produção, buscou adaptar-se à máquina para então modifica-la.

Excesso de adaptação foi seu pecado!!

De tantos fins que justificaram os meios, e de tanto que os meios se tornaram o fim (da picada), não só no Brasil, mas no mundo esse conceito ruiu. O momento é outro apesar de muita coisa permanecer a mesma. As armas hoje já não significam protesto porque viraram sinônimo de destruição. As ditaduras, mesmo que proletárias, se tornaram sinônimo de abominação.

E a corrupção tornou-se um crime hediondo contra a sociedade!!

O mensalão é uma prática antiga que de tão antiga era indissociável do sistema político. Embora possamos acreditar, benevolentes que somos, que o objetivo da corrupção petista era em benefício do país, já que os apoios comprados seriam para causas sociais, ou seja, considerando que o partido no poder era um legítimo defensor das causas sociais e pretendia fazer passar seus projetos, ou ampliar seu poder para garantir sua governabilidade..... de boa intenção o inferno atingiu superlotação.

Nosso comportamento é tão viciado que nem conseguimos acreditar plenamente nos próprios juízes que julgam esse caso porque não seria surpreendente tentativas de suborno do judiciário, já que vemos isso diariamente. Todos somos suspeitos até que se prove o contrário!!

E é essa consciência o fator mais importante nesse julgamento: que observemos nossos próprios atos. A lavagem cada vez maior de políticos corruptos nos últimos anos, derrubando mitos, tem mais importância no reflexo que consegue no comportamento de cada um da coletividade, do que punir esta ou aquela pessoa.

Reitero que infelizmente ainda vamos caminhar muito até que paremos de nos distinguir dos nossos representantes; até que a sugestão de Gandhi seja aplicada de mudarmos em nós mesmos as mudanças que queremos ver nos outros. Mas todas as caminhadas começam por algum lugar e a estrada que leva à integridade começa a ser construída. Não pelo falso moralismo desse atual judiciário, mas porque a escuridão da tirania já perde seu breu.

Que não só os corruptos sejam punidos mas que a corrupção seja substituída como padrão de conduta por atitudes de respeito ao humano, ao social, ao coletivo. E, principalmente, TODO ESSE DINHEIRO QUE ESCOA NESSES ESQUEMAS MILIONÁRIOS SEJA REVERTIDO EM BENEFÍCIOS SOCIAIS, NA SAÚDE, EDUCAÇÃO, HABITAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE.



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