Cada
um de nós cria aos olhos dos outros uma “cara”, uma personalidade, na forma
como nos vestimos mostramos nossas escolhas de comportamento; nas nossas
atitudes revelam-se como pensamos o mundo. E assim, que nos vê e se relaciona
conosco adquire uma imagem de nós, a partir da qual vai se relacionar. Mais ou
menos assim.
Uma
nação, também tem sua “cara”: há um conjunto de características que diferencia
o povo americano do povo alemão. E para além do “povo” existe uma “entidade”
que é o próprio país: a partir daquilo que produz, planta, comercializa, etc,
ele estabelece um perfil de si mesmo. Essa resposta não é nada simples e
envolve as muitas facetas que formam o perfil de uma nação.
O
Brasil vem se dedicando à venda da imagem de “paraíso tropical” mais do que nunca; nem tanto pelas bananeiras e
praias maravilhosas, que vão sempre atrair turismo (já mais caro para
brasileiros do que viajar até Paris), mas por se mostrar o “mundo das
oportunidades”. Aqui pode tudo!!! E, para o Capitalismo, paraíso é sinônimo de
oportunidade. A faceta liberal, principalmente no quesito econômico, só falta
atrair os magnatas de Dubai com seus castelos de ouro.
Aparentemente
essa abertura foi excelente alavancando nossa economia; agora já aponta que
para toda ação do presente há uma responsabilidade futura.
A
indústria automobilística é o exemplo mais característico dessa liberalidade
que rende muitos frutos para cofres atuais, construindo a olhos vistos um
futuro catastrófico em médio prazo.
Quem vai estabelecer os limites para nossa vida?
Quem vai escolher até onde vale à pena
sofrer determinadas consequências
para adquirir certos lucros?
Já
tem país por aí em que as pessoas usam máscaras, tamanha a poluição em que
vivem, e com taxas elevadas de mortes decorrentes dessa poluição. Vale à pena?
Quem faz essa escolha? E se no certo país conseguem viver assim, então nós que
não usamos máscara (ainda) podemos continuar com a desenfreada venda de
automóveis, certo? Puf. Essa problemática que envolve a indústria
automobilística é tão ridícula e conhecida que nem merece desenvolvimento, se
não, comprar máscaras antes que subam os preços....
Mas
o que pretendo destacar no momento é o crescimento avassalador da “indústria da religião”, que vou nomear
“indústria” pela forma como vem se estruturando o setor e pelo alcance
econômico que atingiu. A matéria-prima é a fé, ou algo que leva esse nome, e a
partir dela são criados um número cada vez maior de produtos; e pela natureza
própria o potencial é infinito!!!
Em
várias civilizações aparece a comercialização da fé, talvez desde que o
comércio foi criado, justamente por ser uma exploração fácil, com um
investimento econômico inicial zero e ganhos imediatos, no mínimo. Hoje com o
desenvolvimento da complexidade do setor, mega investimentos são feitos com
ultra mega lucros garantidos.
Porém,
alguns países, coincidentemente de perfil liberalista, estão se destacando no
desenvolvimento desse setor econômico, principalmente Brasil e EUA.
De
todos os comércios religiosos que são encontrados praticamente em todas as
manifestações religiosas, aquele ligado às igrejas ditas evangélicas teve o
avassalador crescimento acima referido.
Embora
encontremos a exploração comercial da fé desde os tempos primórdios
e em diferentes culturas, a relação interna entre os princípios religiosos
específicos e o comercio de artefatos ou da própria fé, era, digamos, causal:
primeiro se estabelecia o legado religioso, normalmente em torno de uma
literatura religiosa original, um livro sagrado e normativo, para
posteriormente serem estabelecidas formas de exploração comercial da
participação dos fiéis. A Igreja Católica é um dos muitos exemplos, o mais
glamouroso, do desenvolvimento estratégico dessa exploração.
Dessa
hipocrisia católica cultivada por séculos foi gerada uma cria, ainda cristã,
que se converteria na própria derrocada da fonte procriadora. A igreja
evangélica aprendeu profundamente as lições de exploração comercial ditadas
pela igreja católica, se rebelou contra seus dogmas recriando toda a estratégia
de exploração com novas tecnologias.
Há
que se observar já passado tantos anos, que a própria rebeldia supostamente
ideológica era a melhor estratégia de crescimento da "marca", já que o fiel católico
insatisfeito e frustrado pelos antigos dogmas era o campo mais fértil para
conversão a uma nova proposta de leitura DA MESMA BÍBLIA, o melhor consumidor.
Uma estratégia inteligente
e eficaz, que exigiu pouco esforço além da paciência, desembocou numa das mais
promissoras oportunidades econômicas do mercado médio brasileiro atual.
E
o Brasil foi excelente terreno para esse crescimento já que possuía as principais
facilidades para a atividade: país (apesar de laico) numerosamente católico,
liberalidade econômica, inteligência nata para golpes, legislação elástica e
justiça punitiva zero.
Assim
floresce uma nova relação entre religião e atividade econômica, já não tão
causal: hoje a abertura de uma igreja evangélica não é apenas uma iniciativa
religiosa e sim vista como uma atividade empresarial competitiva; uma "marca" com direito ao sistema de franquias.
Assim como há
algumas décadas víamos cursos para formação de empresários deste ou daquele
setor, hoje temos cursos lotados, palestras com 5 mil espectadores à preços “de
coaching”, para a “formação” de pastores, os novos empresários da industria da religião.
A
figura do líder religioso se fundiu a do empresário do setor. O pastor não
precisa ter formação religiosa específica para fundar uma igreja, mas sim
formação empresarial especializada no setor para abrir sua empresa evangélica.
Os confinamentos prolongados nos seminários católicos e promíscuos foram
eliminados e a reflexão profunda e pessoal quanto aos dogmas também são
desnecessários: há um discurso já estruturado e repetido por todos aqueles que
entrarem nesse tipo de negócio. Assim como se treinava vendedores de bigmac com sorrisos e perguntas formatadas, criam-se agora pastores com cultos completos vendidos em apostilas!!!! E raciocínios tão óbvios e repetitivos que até crianças conseguem repetir em palavras e tonalidades, sequencias completas de pregação, vendidas como bençãos de Jesus.
O
fenômeno evangélico é um resultado óbvio do capitalismo que esvazia os
conteúdos humanos e transforma em mercadoria até a mãe!!! Apoiado nas
tecnologias mais avançadas de marketing a industria do evangelismo nem esconde
sua estratégia que apesar de vergonhosamente explícita só cresce. É como o
refrigerante coca-cola que todo mundo sabe que é veneno desentupidor de pia,
mas continua bebendo cada vez mais e colocando na mamadeira de crianças menores de 1 anos, ou o sanduíche macdonalds que é feito de minhocas plásticas!!!
Nesse
caso o sucesso é ainda mais garantido e a um prazo bem mais longo,
indeterminável pois a matéria prima coincide com a própria existência humana.
Não existe melhor negócio do que a exploração do imaterial humano. Assim como
uma nova economia, chamada criativa, está se projetando a partir da matéria
prima imaterial, prometendo novas relações de trabalho, o capitalismo, na
desesperada tentativa de sobreviver, apelou pras mesmas bases.
(Alias é o maior segredo esse da sobrevivência do sistema
capitalista: ir se adaptando constantemente até se fundindo ao que lhe parece
contrário; qualquer iniciativa de fugir à sua estrutura é rapidamente
transformada em nova possibilidade estrutural....)
O setor evangélico está
conseguindo se transformar e se adaptar rapidamente com extrema agilidade em
todos os setores; localiza com perspicácia nas promessas de naufrágio do
sistema, sua própria recuperação. A industria fonográfica é ótimo exemplo:
destruído o império pela promiscuidade cibernética, essa industria foi salva
por Jesus, resgatando significativos lucros, pelo setor da industria
evangélica. Como faz para sustentar o sucesso do seu marketing a estratégia
evangélica baseia a atividade econômica nos princípios da fé: é pecado piratear
música!! Pronto, para louvar seu deus o dia inteiro a
industria fonográfica volta a sua bela arrecadação no mercado da
música gospel.
Tivesse a pequena e média
empresa brasileira o tipo de incentivo fiscal dado a industria religiosa e
teríamos um crescimento enorme dessa economia. Assim sendo, por dedução,
entende-se que o país está incentivando o crescimento da indústria evangelica.
Talvez não ganhe os impostos diretos das aberturas dos templos, mas com a
explosão comercial do entorno, deve estar sendo lucrativo para os cofres
públicos permitir tal crescimento.
E aqui não pretendo discutir se
este ou aquele setor deve crescer mas apenas sublinhar qual setor está sendo
incentivado, a partir de qual matéria prima?
Sob a proteção do título
"religião" os mais perversos golpes vem sendo aplicados do Oiapoque
ao Chuí, com pouquissimas criminalizações. As vergonhosas impunidades aos
processos contra Edir Macedo, familia Hernandes, etc, encorajam até estupros
cometidos por pastores pelo país todo.
Essa é a cara que o Brasil está
construindo:
Deitando e rolando no Congresso
Nacional, até cantando música de louvor na tribuna, a industria religiosa está
confortável no trânsito dos poderes legislativo e executivo. E para se
fortalecer definitivamente como Quarto Poder já deu seu próximo passo: quer
reinvindicar "liberdade de expressão" nos cultos, mesmo que se
colocando acima das Leis do país. Um projeto que pretende liberar pastores do
crime de homofobia durante cultos, está para ser votado. Fingindo defender a
expressão de seus dogmas o que realmente pretendem é provar que estão acima até
do judiciário e criar suas próprias leis. Já não submeteram o Conselho de Psicologia???
Da porta pra fora do templo a
lei é uma, da porta pra dentro é outra. Isso mostra a profunda confusão entre
dogmas e leis, entre poder público e religioso em que vivemos. E mostra que nosso país já está
sendo subjugado ao poder econômico dessa indústria, ou nem haveria espaço para
tal discussão.
Se for aberto esse precedente,
quanto tempo vai demorar para sentirem-se livres dentro dos templos, pra queimar
pessoas?
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