sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dilma veta parcialmente: o poder feminino da conciliação

Dilma vetou parcialmente o Código Florestal. Um alívio pra sociedade já que nem um lado nem o outro, a favor ou contra, terá que pegar nos paus e pedras.

Uma saída inteligente. Nenhum veto ou um veto irrisório levaria uma multidão para as ruas, que vê nessa decisão quanto ao Código nem tanto o detalhamento dele em si (que muita gente desconhece), mas o símbolo de um pensamento sustentável e pró-ambientalista, um signo de respeito à natureza, ao humano e, principalmente, uma resistência ao predatismo do poder econômico. E quando se fala em opiniões coletivas importa menos a verdade dos fatos, importa menos o quanto é sustentável o novo Código, mas o mito em torno do assunto. A coletividade necessita de mitos para se expressar e isso não é bom nem ruim, apenas é assim. Temos uma psique que é coletiva e não se comporta de forma diferente da individual, aliás muito pelo contrário. Portanto decisões coletivas tem um importância, significado e dimensão muito além da política tecnicamente falando. Por isso precisamos de sabedoria no governo e não conhecimento.

Pelo outro lado, da saia justa de nossa presidenta fêmea (primeira grande demonstração da capacidade feminina de conciliação), o veto total traria um desequilíbrio político totalmente inadequado para esse momento interno e externo ao país.

Na verdade um desconforto político foi causado, pois vemos agora uma disputa de poder! Em nome da DEMOCRACIA não será novidade o Poder Legislativo reivindicar seu poder representativo; o que representa mais a opinião pública: o legislativo ou o executivo? Embora ambos sejam resultado de votação democrática, nosso sistema dá a UM representante mais poder do que a um enorme grupo formado por diferentes forças da sociedade..... herança dos reis? 
Mas foi dado o primeiro passo (demorô) para o aprofundamento da discussão. Dilma veta 12, altera outros, elimina, muda, propõe (pelo menos justifica tanto tempo debruçada sobre o tema). Agora para discutir vamos ter que ler e reler em detalhes e parar com as generalidades (nós sociedade leiga). Dilma satisfez (mesmo que em parte) o sentimento coletivo e mostra que não está brincando de governar, que não é um joguete político como gostam de acusar, mas representa um conceito de governabilidade bem diferente do que conhecemos em tanto tempo de ditadura e algum tempo já de neo liberalismo. Se o "serrismo" tivesse ganhado as eleições estaríamos numa discussão bem diferente nesse dia de hoje.

E quanto mais detalhada for a discussão mais claro ficarão os interesses de todas as partes. Então vejamos as partes.

Reinaldo Azevedo, jornalista vejano escreveu: “Não há, e eu vou repetir isso quantas vezes se fizer necessário porque é verdade, nada de “ambientalmente incorreto” no novo Código Florestal. A afirmação é coisa dos cavaleiros do apocalipse de Marina Silva e de ongueiros em geral, financiados por um setor muito atuante do novo capitalismo: o das chamadas energias alternativas.”

Puxa vida fico besta quando leio um troço desses! Quer dizer que as “chamadas energias alternativas” são apenas um setor atuante no novo capitalismo e que a defesa dessas energias é nada menos do que interesse econômico? Esse tipo de análise só confirma a velha teoria de que “vc olha o mundo conforme os olhos que tem”. Claro, porque uma pessoa que entende a iniciativa de construir um mundo totalmente diferente, com a economia baseada em pilares totalmente diversos do que está hoje, como um interesse econômico, é porque só enxerga interesse econômico no que olha. E nesse caso não temos como ajudar, pois infelizmente nem óculos 3D vai fazer essa pessoa enxergar além disso.

Tudo o que decidimos hoje, seja em nossa vida privada ou em nossa vida social, não determina apenas o presente, mas orienta nosso caminho. Em outras palavras: o caminho não existe e é criado a cada instante com o que imaginamos/agimos.

Que existam interesses escusos em alguns que defendem o veto total não há dúvida. Tem sempre alguém “aproveitando” alguma coisa em todos os lugares. Seria muito mais fácil se pudéssemos dividir o mundo em esquerda e direita, entre bons e maus, mas já tá meio “clarinho” que não funciona assim; entre maus existem bons, dentro do próprio ser mau existe um ser bom e o próprio mal quando acontece sempre traz um lado bom.... uma paixão sem fim, uma coisa não vive sem a outra.

Todo ongueiro é legal? Nããããããão

O Reinaldo Azevedo é totalmente conservador neo liberal preconceituoso e totalmente descartável? Não, deve ter alguma coisa útil na pessoa. Escrevi pra ele (caso o blog dele deixe ser publicado): 
Puxa Reinaldo vc deve estar tristinho com os vetos da Dilma né? Quem sabe não seja a hora de vc pensar melhor sobre a importância das energias alternativas? E também refletir sobre o fato de que vc analisa a realidade conforme seus conceitos e preconceitos e por isso vê interesse econômico em tudo. Embora vc preferisse que todos pensassem como vc, o mundo é feito de diversidades e apoiar a economia criativa é uma forma de sair desse sistema predatório. Não Reinaldo a economia criativa e energias alternativas não fazem parte do NOVO CAPITALISMO como vc observa. São bases de uma forma de organização totalmente diferente do capitalismo. Vamos andar pra frente???

Mas independente do ser que escreveu, representa uma faceta dessa discussão sobre o futuro que queremos e que caminho pretendemos criar até esse futuro. Sou romântica o suficiente para acreditar que quando alguém não vê uma solução obviamente melhor (aquela que preserva a natureza, a afetividade, a humanidade contra o poder econômico predatório) não é porque seja uma pessoa ruim, mas apenas um problema de VISÃO mesmo. Eu mesma sou míope e preciso de óculos para enxergar letrinhas miúdas à distância. No caso da “visão de mundo” ainda não temos um óculos possível de comprar e na verdade, como dizem os sábios, para ver a Realidade há que FECHAR os olhos e olhar para dentro. Por que? Porque o Universo está lá, inteirinho, dentro de nós. O passado, presente e futuro.

Entendo que um ser que não tenta fortemente, intensamente, colaborar para um mundo mais simples, honesto, fraterno, gentil, alegre, respeitoso, só não olhou pra dentro.

O que quero expressar com esse lenga lenga é que precisamos criar o hábito de transitar do interno para o externo, da psique individual para a coletiva, da realidade subjetiva para a objetiva, com mais freqüência e consciência, tanto para decisões privadas quanto sociais.

A vida, a chave, o Segredo não está nem dentro nem fora, mas no TRANSITO.

E como podemos ver claramente sem óculos, nosso trânsito está empacado, abarrotado de meios de transporte pouco úteis à sociedade, mas muito úteis ao poder econômico..... é um transitar violento, intolerante.

A Dilma está dirigindo bem o país? E vc está dirigindo bem sua vida?

Nossa, do Código Florestal eu vim parar aqui no Detran? Ah deve ser porque troquei minha carteira de motorista essa semana.........



Nenhum comentário:

Postar um comentário