sábado, 28 de abril de 2012

PoBRe do pAís que NÃO resPEITA SuAs MULherES - acid attack


Se vc é uma pessoa que sofre ao enxergar o lado cruel da humanidade, não leia este artigo. Se imagens reais do que os homens são capazes de fazer com as mulheres podem ferir sua sensibilidade, pare a leitura aqui e num clique esqueça esse assunto.

Se vc continuou então devo esclarecer que minha intenção é bem clara: pedir que vc pense e me responda às seguintes perguntas:

- o que permite, ou alimenta, um ser humano cometer este tipo de crime que vou descrever no seguinte artigo?

 - que tipo de sociedade “permite” a recorrência desse crime?

Não responda imediatamente e nem dê respostas comuns; investigue na sua alma, no silêncio da sua reflexão, no âmago da sua crença, busque na semelhança que existe entre vc (um ser humano) e um desses criminosos (outro ser humano), sem julgá-lo, o que sente uma pessoa dessas que a leva a um crime desses. E ampliando a atitude desse criminoso me responda por que a sociedade sustenta esse comportamento.

Vamos aos fatos.

As atrocidades contra a mulher ao redor do mundo são muito conhecidas por todos nós. Sabemos que 1/3 da população feminina mundial é ou já foi espancada ou agredida sexualmente; 1/3 da população feminina mundial! A violência doméstica (que também recai sobre crianças) é um fato e um crime tão recorrente que tem gerado a imposição de leis para proteção das mulheres. Em todos os lugares em que esse tipo de violência é comum a estatística revela que o crime contra a mulher acontece principalmente dentro da “sagrada família”, dentro de casa sendo os criminosos pais, maridos, irmãos, tios, namorados ou ex-parceiros, apoiados pelas famílias e pela sociedade, que colabora na hora de atirar as pedras, sejam reais ou metafóricas, conforme a cultura.

Crimes contra a mulher sempre ocorreram em larga escala (não dizem que no tempo das cavernas o homem puxava a mulher pelos cabelos, como fazem hoje na China?),



e, muito recentemente, quando os índices tornaram-se assustadores, e a situação ficou culturalmente vergonhosa, mas principalmente porque as mulheres tornaram-se ativistas, que alguns procedimentos de defesa foram sendo implantados. Em alguns países essas leis têm funcionado melhor (a Lei Maria da Penha virou um modelo internacional), em outros não tem funcionado e em vários ainda nem existe esse tipo de lei. E onde as leis não funcionam, já sabemos, o crime corre solto.

Alguns estudos indicam que 90% das mulheres do Paquistão são vítimas de violência doméstica; 66% no Irão são agredidas no início do casamento; na Jordânia 60% das mulheres acham que os maridos lhes devem bater quando elas queimam o jantar; na Turquia 50% das mulheres são agredidas física e sexualmente com regularidade; na África do Sul a cada 27 segundos uma mulher é estuprada. No Brasil 60% das mulheres que solicitaram ajuda afirmaram serem espancadas diariamente, sendo que a cada 15 segundos uma mulher é espancada... sendo a violência doméstica a causa morte de 70% das brasileiras. Câncer de mama vai virar opção sortuda!!

A diferença entre as atrocidades cometidas varia conforme a cultura e as “facilidades” para a ocorrência dos crimes, não sendo umas modalidades piores do que as outras, mas neste artigo vamos destacar uma delas. Dentre as várias e incríveis modalidades de crimes contra a mulher, há muitos anos um tipo de crime vem se repetindo na África e no sul da Ásia, com maior destaque midiático no Paquistão: mulheres são atacadas e deformadas com ácidos nítrico e sulfúrico (acid attack).

A recorrência é tão significativa que o governo paquistanês foi obrigado a modificar a legislação passando de 5 para 14 anos a pena para o crime, mas fora Bangladesh que impôs controles para a venda dos ácidos, o produto é facilmente encontrado e comprado em qualquer região destes continentes. Além da facilidade de acesso à “arma” apenas 2% dos casos chegam a julgamento e os criminosos não permanecem mais que 1 ano presos; o que significa que o governo praticamente INCENTIVA a prática.

Ativistas indicam que cerca de 150 mulheres por ano são atacadas e vem aumentando mesmo depois da mudança da legislação. Em 2008 o documentário “Saving Faces”, que conta o trabalho do cirurgião plástico paquistanês, Mohammad Jawad, reconstruindo os rostos das vítimas desse tipo de ataque, revelou para o mundo as imagens dessa realidade que parece fictícia ou casual, de tão absurda. 


O documentário ganhou Oscar, mas os ataques só aumentam. Uma organização formada por cirurgiões plásticos da Itália viajam trimestralmente às regiões mais afetadas para realização das cirurgias e tentativa de amenização do sofrimento dessas mulheres.

A incidência de tal violência e a terrível conseqüência são tão preocupantes que o crime está sendo observado numa nova categoria de terrorismo: o terrorismo pessoal. A Associação de Mulheres Progressistas do Paquistão desde 1994 registrou 7.800 casos de mulheres que foram deliberadamente queimadas, escaldadas ou sujeitas a ataques de ácidos, apenas na área de Islamabad, sua capital.

As informações são terríveis, mas não conseguem provocar a angústia que sentimos ao ver as imagens dessas mulheres; seus rostos dizem muito mais do que qualquer informação, suas marcas nos fazem sofrer e pensar: quem somos? Sim, “quem somos” porque se olharmos para estes rostos com piedade, nos afastamos do problema; com medo de ficarmos chocados e sofrermos sentimos pena como se essas vítimas não fossem nós mesmos; como se esses criminosos pertencessem a outro planeta, a uma cultura tão distante que não se assemelha em nada com a nossa. Mas elimine essa ilusão e se solidarize com essas marcas porque esse tipo de terrorismo só muda de arma, mas se repete entre todos nós. Se vc sente terror ao ver essas imagens, imagine o que sente cada uma dessas mulheres ao se olharem no espelho e verem que este “terror” está cravado no próprio rosto. As fotos foram tiradas por Nicholas Kristof, na ocasião enviado pelo New York Times.


Irum Saeed, 30, posa para a fotografia em seu escritório na Universidade Urdu de Islamabad, Paquistão, quinta feira 24 de julho de 2008. Irum foi queimada no rosto, costas e ombro há 12 anos, quando tinha 17, quando um rapaz a quem ela rejeitou o casamento a seguiu até a escola, a cercou numa rua estreita e jogou um jarro cheio de ácido sobre ela. Foi submetida a 25 cirurgias plásticas.



Shameem Akhter, 20, posa em sua casa em Jhang, Paquistão, quarta-feira, 10 de julho de 2008. Shameem foi estuprada por 3 rapazes que, em seguida, jogaram ácido sobre ela há 3 anos. Passou por 10 cirurgias plásticas.



Najaf Sultana, 16, posa em sua casa em Lahore, Paquistão, quarta-feira, 09 de julho de 2008. Na idade de 5 anos ela foi queimada por seu pai enquanto dormia, aparentemente porque ela não queria ter uma outra menina na família. Najaf ficou cega e depois de ser abandonada por seus pais, agora vive com parentes. Já se submeteu a 15 cirurgias plásticas.



Shehnaz Usman, 36, posa em Lahore, no Paquistão, domingo, 26 de outubro de 2008. Shenaz foi queimada com ácido por um parente devido a uma disputa familiar há 5 anos. Já passou por 10 cirurgias plásticas.



Shahnaz Bibi, 35, posa em Lahore, no Paquistão, domingo, 26 de outubro de 2008. Dez anos antes ela foi queimada com ácido por parente devido a disputa familiar. Ela nunca passou por cirurgia plástica.



Kanwal Kayum, 26, posa em Lahore no Paquistão, domingo, 26 de outubro de 2008. Ela foi queimada há 1 ano por um rapaz de quem ela rejeitou o casamento. Nunca passou por cirurgia plástica.



Munira Asef, 23, posa em Lahore no Paquistão, domingo, 26 de outubro de 2008. Ela foi queimada há cinco anos por um rapaz a quem ela rejeitou o casamento. Já foi submetida a 7 cirurgias plásticas.



Bushra Shari, 39, posa em Lahore, Paquistão, sexta feira, 11 de julho de 2008. Bushra foi queimada por seu marido há 5 anos porque estava tentando se divorciar dele. Já foi submetida a 25 cirurgias plásticas.



Memuna Khan, 21, posa em Karachi, Paquistão, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008. Menuna foi queimada por um grupo de rapazes que jogaram ácido sobre ela para resolver uma disputa entre sua família e a de Memuna. Já foi submetida a 21 cirurgias plásticas.



Zainab Bibi, 17, posa em Islamabad, Paquistão, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008. Foi queimada há 5 anos, com então 12, por rejeitar um rapaz para o casamento. Já se submeteu a várias cirurgias.



Naila Farhat, 19, posa em Islamabad, Paquistão, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008. Naila foi queimada há 5 anos ao rejeitar um pedido de casamento. O caso de Naila foi levado à Suprema Corte do Paquistão em novembro de 2008 e recebeu grande publicidade. O agressor foi condenado a 12 anos de prisão e a pagar 1,2 milhões de rupees em danos. Isto representou um marco nas decisões de como lidar com a violência de gêneros, mas não conteve o problema ficando como um caso excepcional, pois na maioria dos casos quando há punição ela é desproporcional ao crime.



Saira Liagat, 26, posa em Lahore, no Paquistão, quarta-feira, 9 de julho de 2008. Saira casou-se com um parente aos 15 anos mas ambas famílias concordaram que ela só passaria a viver com o marido quando completasse a escola. O marido no entanto pediu que ela fosse viver com ela antes do acordado e devido a recusa ela a atacou com ácido. Já se submeteu a 9 cirurgias plásticas.



Nasreen Sharif, 26 posa em Islamabad, Paquistão, 24 de junho de 2007. Aos 15 anos Nasreen foi queimada depois de rejeitar o casamento com um homem muito mais velho, primo de seu pai. O atacante foi penitenciado a 25 anos de prisão mas com o suborno de US$ 10.000 conseguiu sua libertação após 3 meses e tornou-se advogado. Nasrenn ficou cega e tem recebido assistências de organizações não-governamentais para cirurgias na Itália.



Shama, jovem mãe de 4 filhos atacada em 2012 pelo marido: “Meu marido e eu sempre discutíamos em casa, naquele dia, antes de ir dormir, ele disse ‘você tem muito orgulho da sua beleza’. Então, no meio da noite ele jogou ácido em mim e fugiu”. O marido levou o celular ao fugir deixando-a sem possibilidade de pedir ajuda.



Grande parte das mulheres que sofrem este tipo de ataque nunca mais se recupera e comete suicídio.

  
Aqui descrevemos apenas os casos relacionados ao ataque por ácidos relatados na mídia.

Existe outra enorme lista de casos e fotografias de mulheres que sofreram, e sofrem, violências com queimaduras à querosene e gasolina, com conseqüências semelhantes ou piores do que estas. Apenas para citar violências por queimaduras.

As Nações Unidas e outras organizações de direitos humanos emitiram relatórios sobre as muitas formas de violência contra as mulheres no Paquistão, envolvendo violência doméstica, estupro e assassinatos de honra. O ácido é jogado em mulheres para vingar a vergonha que a mulher é acusada de provocar, seja na recusa de um casamento, na tentativa de separação matrimonial e outras circunstâncias. O ácido queima e raramente mata causando desfiguramento grave e sofrimento que levam as mulheres a se restringirem às suas casas causando isolamento social e depressão grave. Os crimes são cometidos com facilidade pois o ácido é utilizado comumente para limpeza e na agricultura; produto barato e disponível a todos, apesar dos protestos das mulheres contra a venda livre.

Como para qualquer crime, com certeza a falta de punição compatível permite o aumento e ampliação do comportamento.

Misoginia? = ódio ou desprezo pelo sexo feminino

Machismo? = crença na inferioridade feminina

Patriarcado? = ideologia na qual o homem é a maior autoridade devendo as pessoas que não são identificadas fisicamente com ele serem subordinadas, prestando-lhe obediência.

Há quem diga que teoricamente esses conceitos diferem. Na minha opinião levam ao mesmo resultado.




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