Um
renomado periódico espanhol referiu-se recentemente a Zygmunt Bauman como um
dos poucos sociólogos contemporâneos "nos quais ainda se encontram
idéias". Opinião semelhante é freqüentemente exposta por críticos de
várias partes do mundo quando refletem sobre o pensamento desse intelectual
polonês radicado na Inglaterra desde 1971 e empenhado há meio século em
"traduzir o mundo em textos", como diz um deles. Indiferente às
fronteiras disciplinares, Bauman é um dos líderes da chamada "sociologia
humanística", ao lado de Peter Berger, Thomas Luckmann e John O'Neill,
entre outros. De um lado, não se encontram em suas obras abstrações ou análises
e levantamentos estatísticos; de outro, são ali aproveitadas quaisquer idéias e
abordagens que possam ajudá-lo na tarefa de compreender a complexidade e a
diversidade da vida humana. Essa é uma das razões pelas quais Bauman tem muito
a dizer para uma gama de leitores muito maior do que normalmente se espera de
um trabalho de sociologia mais convencional, o que condiz com suas próprias
ambições de atingir um público composto de pessoas comuns "esforçando-se
para ser humanas" num mundo mais e mais desumano. Como ele gosta de
insistir, seu objetivo é mostrar a seus leitores que o mundo pode ser diferente
e melhor do que é.
Autor prolífico e de renome internacional, pode-se dizer que sua
fama e prolixidade aumentaram significativamente após a aposentadoria, em 1990:
16 de seus 25 livros foram publicados após essa data e cinco obras dedicadas ao
estudo de seu pensamento foram escritas nos últimos anos.
Descrito certa vez como "profeta da pós-modernidade"
(com o que não concorda), por suas reflexões sobre as condições do mundo da
"modernidade líquida", os temas abordados por Bauman tendem a ser
amplos, variados e especialmente focalizados na vida cotidiana de homens e
mulheres comuns. Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor,
comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre
salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz
respeito à condição humana. Preocupado com a sina dos oprimidos, Bauman é uma
das vozes a permanentemente questionar a ação dos governos neoliberais que
promovem e estimulam as chamadas forças do mercado, ao mesmo tempo em que
abdicam da responsabilidade de promover a justiça social. "Hoje em
dia", lamenta ele, "os maiores obstáculos para a justiça social não
são as intenções... invasivas do Estado, mas sua crescente impotência, ajudada
e apoiada todos os dias pelo credo que oficialmente adota: o de que 'não há
alternativa'". É nesse quadro que se pode entender sua afirmação de que
"esse nosso mundo" precisa do socialismo como nunca antes. Mas o
socialismo de que Bauman fala, como insiste em esclarecer, não se opõe "a
nenhum modelo de sociedade, sob a condição de que essa sociedade teste
permanentemente sua habilidade de corrigir as injustiças e de aliviar os
sofrimentos que ela própria causou". É nesse sentido que ele define o
socialismo como "uma faca afiada prensada contra as flagrantes injustiças
da sociedade".
Por Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke
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Entrevistas com Zygmunt Bauman
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