sábado, 4 de fevereiro de 2012

SEXO VIRTUAL: o novo sexo



Ah assunto deliciosamente polêmico....

Não há como negar: o sexo virtual é uma nova faceta da sexualidade atual. Hoje fazemos comércio, estudamos, conhecemos lugares e pessoas, fazemos amizades, organizações sociais, política, enfim, quase toda atividade humana agora tem uma possibilidade virtual. Com o sexo não é diferente.

Essa disputa indócil entre a realidade e a virtualidade vem atiçada há tempos, mas no campo da sexualidade ela explode em questões incômodas e sem respostas.

O sexo virtual, ou cybersex, é sexo?

A princípio dizia-se que não, nunca, o sexo verdadeiro depende da presença, do toque dos corpos, da troca dos cheiros e fluidos, da experiência física das variações de temperatura; que esses componentes da realidade eram essenciais para designar a experiência sexual. A ausência física do parceiro ou parceira era condição que assegurava a fidelidade; ninguém pedia divórcio ao encontrar uma Playboy no banheiro. A fantasia podia ser estimulada por imagens, contanto que não houvesse o contato “real” com o objeto de desejo.


Então a internet colocou a fidelidade em cheque, jogou para o alto nossos conceitos, nossos limites e fomos obrigados a rever nossa sexualidade, nossos laços afetivos.  Ficou possível estabelecer o “contato” com o objeto desejado. Surgiu uma nova forma de relacionamento, novos parâmetros; hoje se considera possível estabelecer laços de afetividade com pessoas que sequer abraçamos fisicamente, embora possamos exercitar abraços e beijos virtuais de várias espécies.  Muita gente ainda critica esse tipo de relacionamento, mas as primeiras teorias de comportamento que julgavam a afetividade “virtualizada” como resultado de um caráter doentio, já caíram por terra, ou pelo menos, são considerados comportamentos saudáveis verificados certos limites.


Já o sexo virtual, de início, veio carregado dos conceitos e pré-conceitos projetados pelos vídeos eróticos; até poucas décadas, as imagens de sexo explícito eram exclusivas dos filmes de pornografia. Com o avanço da tecnologia e a falta de criatividade da indústria pornográfica, cada vez mais casais passaram a criar seus próprios estímulos. E a crescente e veloz comunicação da internet fez com que explodissem imagens de todos os tipos, de todas as tendências sexuais, de todas as partes do mundo (que tem acesso à rede).

Os pré-conceitos mais uma vez foram questionados: nem toda mulher se exibindo eroticamente num vídeo é uma prostituta. Aliás, hoje em dia fica cada vez mais difícil diferenciar quem está trabalhando com sexo virtual de quem está se divertindo. Os sites de encontros estão carregados de mulheres/homens buscando parceiros sexuais e afetivos, misturadas a mulheres/homens procurando programas de sexo profissional.

O sexo virtual é uma realidade! É sexo real, se considerarmos novos parâmetros para nossa sexualidade. Para quem entende que o sexo depende do toque físico, o relacionamento por computador não é sexual e, portanto não existe infidelidade num parceiro trocar experiências escritas ou visuais com outra mulher que não sua esposa, como quem lê uma revista de mulheres nuas, porém com tecnologia avançada de som e imagem!!!

Para outros o sexo é determinado muito mais pela intimidade trocada entre as partes, pelas fantasias expostas e desejos divididos, mesmo que sem troca do toque físico. Para estes a vida amorosa monogâmica virou um tormento, pois até as redes sociais permitem um tipo de comunicação e estimulam de tal forma a abertura de intimidades dos mais variados limites, que fica muito difícil criar regras de comportamento. Cada casal está sendo obrigado a encontrar seus limites, definir suas regras e muitos relacionamentos não estão conseguindo dar conta da problemática estabelecida. Parece que atualmente de cada 3 separações 1 envolve a internet.

De certa forma pode ser positivo o fato de que cada casal seja chamado a criar regras próprias de conduta, acertadas entre as partes, deixando de lado um comportamento estabelecido pela moral e os bons costumes arqui-apodrecidos e impostos!

Mesmo assim o sexo virtual continua crescendo tsunamicamente, do mais ousado ao mais comedido.Traz a enorme vantagem de ser um safe sex, com a segurança absoluta de evitar doenças e gravidez, numa época onde isso tem tanto valor. Com certeza poder satisfazer fantasias e desejos sexuais sem correr riscos, compensa abrir mão de alguns itens como troca de fluidos, calores e toques.



Além da segurança à saúde, também permite o desbloqueio da imaginação, tão reprimida pelas sociedades de sempre. O sexo com desconhecidos era uma prerrogativa da prostituição ou dos estupradores. A exploração de fantasias, encenações, e exibicionismo, eram particularidades da pornografia comercial. Hoje qualquer um pode se relacionar cybersexualmente com pessoas desconhecidas, de diferentes nacionalidades e praticar o que a imaginação sugerir sem correr riscos de integridade física ou moral (se tomar os devidos cuidados).

E, principalmente, o sexo não presencial distingue, separa, a sexualidade da afetividade quando permite que um botão cancele o contato imediatamente após o desejo realizado; não há compromissos entre as partes que podem até nunca mais se encontrarem. Até as prostitutas de rua têm endereço mais fixo do que uma parceira sexual virtual. Para o establishment que pretende sustentar a vitória do casamento monogâmico, isto é uma desgraça.

Mas se olharmos com mais cautela para nossa realidade física, que não deveria ser virtual, podemos dizer com muita generosidade que além do sexo presencial ter se tornado um risco de vida (o que é um absurdo), o requisitado “contato” não é garantido pela presença. Nossa sexualidade presencial será que está tão diferente da que temos praticado pela internet? Será que apesar de estarem presentes os corpos, mãos, protuberâncias e reentrâncias, não continuamos sozinhos num onanismo partilhado? Será que não estamos de tal forma incapazes de olhar, sentir e ouvir os “outros” que habitam o mundo externo ao nosso narcisismo que as peles, calores e sabores têm tido a textura de um monitor? Não deletamos pessoas de nossas vidas? Não criamos envolvimentos mentirosos que podem durar até 5, 10 ou 20 anos? Quem de nós não pratica sexo presencial protegidos pelos seus nick names vulgo personas? Será que mudamos realmente em alguma coisa, essencialmente, ou apenas criamos tecnologias para nossas dificuldades? Quantos de nós vivem até 20 ou 50 anos com outra pessoa e continua sendo um desconhecido? Ou é suficientemente criativo para, a cada dia, se tornar uma nova pessoa aos olhos do outro? Quem de nós respeita a privacidade ou individualidade do parceiro.... etc, etc, etc.

O Sentido do sexo não está na presença física e por isso ela pôde ser substituída. Talvez nossa sexualidade já tenha se esvaziado há anos, há séculos, e a única diferença hoje é que esse esvaziamento caiu na rede!!! 


Um comentário:

  1. Muito bom seu texto. A distancia, em tese, determina o isolamento, mas a presença física de outra pessoa não garante companhia, mesmo.Nas relações virtuais, esse esvaziamento apenas vem a tona, fica evidenciado.

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