segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Carta a um Amigo - num dia de inquietude


Nunca
ninguém pôde te compreender como eu.
Vivi ao teu lado a completa experiência de entrar em contato com um mestre.
Um mestre entre os homens existe pra que experimentemos o que será
a verdadeira relação com o Mestre. 


Daqui, agora
passo para a próxima fase. Encerra-se minha iniciação
e como neófita agora sigo meu caminho.
O pescoço foi cortado. 

Quando você me deu Cassandra compreendi profundamente o que me estava sendo dado;
não um papel numa peça, mas um papel na Grande Peça.
E você era o instrumento, o indicado para me dar esse papel.

A certa altura entendi que precisava tomar o navio em direção ao meu destino:
minha iniciação apolínea, minha individuação.

Embarquei.

Só não entendi, por algum tempo, como
se daria o ritual, senão diante do público? 


Mas ele se deu:
embarquei ainda nos ensaios de Tróia
e atingi a CELEBRAÇÃO, através da satânica e alquímica Laura.

Agradeço o fim do Prét-a-Porter
porque efetivamente encerrei meu trabalho no último dia.
Não tinha mais pra onde ir
depois da cena que fiz com a Silvia na última apresentação. 


Um dia você parou diante de nós, apontou o dedo para o infinito e disse:
não olhem pro meu dedo, olhem para onde aponta.

No momento ele apontava uma parede, apenas.

Hoje eu tenho todo o Universo diante de mim. 

Eu olhei.
Pra dentro.

Encontrei um novo mestre.
Ele agora me dirige. 


Hoje entendo, finalmente, que você não viria comigo.
Você está para apontar para um lugar onde você não está.

Hoje você aponta para mim.

Eu estou aqui

e, assim, não estou mais. 


Obrigada
por ter, generosamente,
servido a mim como um mestre.

Esforcei-me para te servir como discípulo.
Mas, você sempre soube disso,
meu maior agradecimento é ir embora e seguir.

Seguir a mim mesma. 


Conheci D'us
nas tuas mãos,
pela ponta do teu dedo.


Agora sou ouro.
Tenho as asas de Hermes.

quem chamam Daniella
(escrito em 2000)


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