quinta-feira, 28 de junho de 2012

Irmãos gêmeos confundidos com homossexuais são agredidos e um deles é morto



Reportagem publicada pela Folha de São Paulo em 28/06/2012 sobre o assassinato de um rapaz, por espancamento, por ter abraço publicamente seu irmão gêmeo, inspira nosso artigo de hoje.


(matéria da Folha de São Paulo)

E ainda destaquei dois comentários, do site do mesmo jornal

Mirella comentou em 27/06/12 at 17:17
Como é que uns e outros dizem?
“Não existe homofobia, isso é invenção dos gayzistas, seus pecadores!”.

 Rogério comentou em 27/06/12 at 17:33
Pobre humanidade essa que se ofende com demonstrações de afeto, seja entre irmãos, seja entre casais héteros ou gays! E ainda tem gente desse tipo que usa a Biblia para justificar tais atos covardes, como se Deus renegasse algum de seus filhos por causa de sua orientação sexual… Pura ignorância!



E mais uma vez estamos aqui repetindo pacientemente o que parece ser tão óbvio: a defesa de direitos à liberdade de expressão, opinião e escolha; a defesa à diversidade sexual.


Antes de qualquer palavra gostaria de agradecer à ALMA desse rapaz que se “ofereceu” como vítima desse crime, e a essa família, esposa e filho ainda em gestação, mãe e irmão, que apesar de seus sofrimentos incalculáveis, vão colaborar em mais um tijolinho no gigantesco muro que estamos construindo contra a violência!! Obrigada!


A notícia publicada pela Folha de São Paulo é chocante!! Enquanto estavam assassinando homoafetivos, a sociedade ainda fingia que o problema era controverso, polêmico, mas esses crimes vem acontecendo diariamente, como um massacre, e pouquíssimo tem sido feito para proteger as vítimas potenciais. Muita gente, muita mesmo, ainda é capaz de manifestar essa frase que a comentarista Mirella fez no site da Folha de São Paulo, sobre a hipocrisia alheia: “não existe homofobia, isso é invenção dos gayzistas...”. Obviamente a sociedade com sua maior riqueza, a hipocrisia, inventa o que for necessário para continuar sustentando sua moralidade perversa. A sexualidade social está num nível bastante problemático, já tão diagnosticado: essa mistura de grupos excessivamente pudicos por um lado, com grupos excessivamente pervertidos de outro, e um grupo mediano de gente perdida procurando ser feliz, faz de nós uma sociedade gravemente doente na sua fonte primária de vitalidade que é a sexualidade.

É forçoso e urgente compreender a relação direta entre as crenças religiosas e essa violência contra liberdade sexual: seja na diversidade de opções seja na própria liberdade de expressão da sexualidade feminina, que também é alvo dessa violência.

Não há como nossa consciência não entrar em parafuso se por um lado somos catequizados por religiões que reprimem perversamente a energia sexual, necessária a nossa expressão humana, e, por outro lado, somos massacrados por um jogo também perverso, do poder econômico, expondo uma imagem completamente desorientada do que seria essa expressão natural.

O comportamento pudico e o comportamento pervertido são o mesmo comportamento!

Já foi tantas vezes explorado o entendimento de que através dessa sexualidade pervertida que os sistemas de poder (religioso e político, enfim ideológico) nos impõem seu comando, somos alvos fáceis de manipulação; a energia sexual, que não é a vontade de praticar sexo, mas uma capacidade humana profunda, uma energia mesmo que nos mantém vivos e criativos (em todos os sentidos), é nossa expressão humana básica. Em outras palavras, se eu cortar a energia elétrica, vc não consegue ligar seu abajur!!! Se eu impedir que sua energia vital circule, vc funciona mal (que não é dificuldade de ereção, mas dificuldade de vencer na vida em todos os sentidos), adoece e se sente sempre pior do que realmente é. E funcionando mal vc se torna facilmente controlado, manipulável, porque "perdendo" seu poder vc delega poder ao externo!!! Se sentindo um lixo, fraco, vc delega ao externo (seu pai, o governo, seu partido, seu patrão, Cristo, Buda, o terapeuta, o médico, DEUS) as forças para melhorar, o poder para vencer. Essa ideia foi inspirada por William Reich, NO SÉCULO PASSADO, mas outras linhas filosóficas (das quais provavelmente ele partiu), antigas, já nos revelavam um pouco desses mistérios. A energia sexual se não for aplicada na sua qualidade criativa e libertária (e não cabe a esse artigo o desenvolvimento do assunto), será, necessariamente aplicada na sua qualidade perversa e repressora.

O que interessa aqui não é o desenvolvimento das teorias da sexualidade como força vital, mas a reflexão sobre: como nossos comportamentos e padrões de pensamento, e sistemas de crenças estão colaborando para esses acontecimentos horrorosos?

Insisto que enquanto o extermínio de pessoas se restringiu a grupos minoritários, ou seja, enquanto estavam matando gays, só os gays e simpatizantes vinham reclamando e se organizando para garantir segurança. Mas como são grupos MINORITÁRIOS, a velocidade com que conseguem resultados legais e policiais é menor do que a velocidade com que os crimes vem crescendo nos últimos anos, em vários estados brasileiros (o país com os maiores índices de assassinatos homofóbicos). Essa violência vem sendo cultivada há séculos, alimentada diariamente, de forma explicita e também sub-reptícia, no nosso cotidiano. No entanto, os gays são seres humanos e portanto o índice de assassinato aos seres humanos veio aumentando no nosso país, por motivos TORPES. Assassinatos injustificáveis, apesar de ainda haver, em algumas culturas, leis que proíbam a homoafetividade com pena de morte.

É isso que está acontecendo no Brasil: pena de morte para a homoafetividade!

Mas como a maioria de nós não é assassina, imaginamos que não somos responsáveis por esses crimes, ou que nosso comportamento não tem vínculo nenhum com esses resultados.
Será? Será que mesmo eu não matando nenhum homoafetivo, o fato de não defender uma lei contra a homofobia não é um tipo de colaboração com o crime? Por exemplo: sou contra abusar sexualmente de crianças; mas, se não houver uma lei que puna a pedofilia, muitas crianças serão abusadas (como a Igreja Católica fez tantos séculos). Portanto é necessário que eu defenda a criação de leis contra a pedofilia porque só com um número grande de defensores dessa possibilidade de lei é que ela se torna Lei efetiva, certo?

O mesmo ocorre contra a homofobia: se não forem criadas leis efetivas de proteção dessa minoria, ela continuará sendo exterminada. E para efetivar essa lei precisamos nos tornar uma MAIORIA defensiva. Deu pra entender o quer que eu desenhe???

A defesa pública desses direitos é só uma atitude de cidadania.

Mas outros comportamentos do cotidiano são importantes para que colaboremos na mudança de padrão mental. Quando incentivamos o respeito às diferenças estamos fazendo essa colaboração. E não precisa ser só em situações ligadas diretamente ao assunto: defendendo um grupo minoritário qualquer, eu estou defendendo TODOS os grupos minoritários indiretamente, pois estou construindo comportamentos de tolerância à diferença.

Mas como a sociedade é preguiçosa no quesito mudança de comportamento, são necessárias várias barbaridades para que algum nível de consciência desperte coletivamente. E, infelizmente, mais uma barbaridade aconteceu e veio de forma inusitada e cruel para que ficássemos bastante decepcionados com nossos semelhantes. Pois é, porque não ficamos suficientemente decepcionados com o assassinato de pessoas que são classificáveis como fora do padrão estabelecido de comportamento, mas quando matam alguém dentro dos padrões, nos assustamos, nos espelhamos. (como se algum de nós conseguisse ser padrão de alguma coisa!!)

Um pai de família, com um filho sendo gerado, foi assassinado por estar praticando o mais belo ato da humanidade!!! Sim¸ a fraternidade é de todos os amores o mais elevado, acima mesmo da maternidade. Em todas as culturas existe o princípio básico de que somos todos irmãos; nesse caso, não só irmãos de sangue, mas para que o ato de torne ainda mais cruel, eram irmãos de célula que estavam se abraçando. Pessoas que foram geradas assim, com corpos unidos, dividindo o espaço sagrado do útero, abraçados pelo afeto fundamental de compartilhar a própria vitalidade......

(silêncio)

Chego então ao segundo comentarista do site onde foi publicada a matéria: pobre da humanidade que se ofende com atos de afeto....

Rapazes que não tem 25 anos, ou seja, jovens, assassinando com pedras duas pessoas que estavam se abraçando, apenas porque eram do mesmo sexo, apenas porque eram ambas do sexo masculino e, provavelmente, se abraçavam com muito amor.

Agora mudamos de patamar. Agora estamos TODOS envolvidos. Embora todos os dias aconteçam assassinatos que assustam nossa sociedade, estamos aqui falando de um tipo de assassinato diferenciado; sim, porque os crimes são diferenciados pelos seus motivos. A senhora que matou o ladrão em legitima defesa é diferente do pai que jogou a filha pela janela, ou do senhorzinho que matou a vizinha pra fazer churrasco, ou do assaltante que arrastou o garoto que ficou preso no cinto, ou do soldado que atirou no inimigo, etc... Esses jovens mataram porque dois homens estavam se abraçando no meio da rua. Agora um pai tem que tomar cuidado ao abraçar seu filho adulto, um amigo ao outro, dois parentes.... agora, homens não homoafetivos vão começar a sentir na pele “parte” do medo, do receio, da inibição que um casal homoafetivo masculino sente quando quer manifestar carinho em público. Todos os homens deveriam se sentir violentados com essa notícia porque todos tiveram seu direito de expressão afetiva assassinado.

É por isso que comecei agradecendo ao rapaz que doou sua vida, porque essa vida pode tirar do anonimato social, tantas mortes de homoafetivos que não foram dignificadas porque não pertenciam à categoria dos “aceitos”. Apesar de que ainda vivemos num sistema de crucificações, de sacrifícios expiatórios, temos condições de recuperar nossas vidas, nossa liberdade de pensamento contra padrões impostos, liberdade de sentimento, contra crenças infligidas, resgatar nossa energia vital e criatividade para imaginar um mundo bem melhor.
Fica aqui o manifesto da minha indignação, pois me indignar ainda é meu sinal de insurgência. Tomara esse caso seja único. Para que não se repita, depende de uma escolha coletiva.





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