quarta-feira, 21 de março de 2012

REPÚBLICA FEDERATIVA EVANGÉLICA DO BRASIL


O Brasil está sendo tomado por grupos religiosos de fanáticos evangélicos. Fanáticos por dinheiro e por poder esses grupos muito religiosos, no pior sentido do termo, não tem nada de espirituais.

As bases de suas ações não são sequer cristãs uma vez que pregam o separatismo, o preconceito e discriminação, a exploração dos mais fracos, a censura, a manipulação do próximo, enfim, tudo ao contrário do que o Mestre Jesus, seu ícone, teria sugerido. Fazem o mesmo trabalho que a Igreja Católica cumpriu na Idade Média e assim que assumirem o poder vão começar a queimação na fogueira.

Não é um exagero, mas uma conclusão óbvia.

O protestantismo que no passado pretendia alguma contestação aos princípios e processos do catolicismo oficial, é hoje esvaziado de qualquer reflexão pelos grupos evangélicos e como todo fundamentalismo tornou-se apenas um recurso para agrupamento de exércitos de sentimentos contra a humanidade! Sim, porque mascarados por discursos de amor a sua divindade e resgate de valores morais, na prática exercitam ações de repúdio a tudo que a humanidade lutou para conquistar: liberdade de expressão, respeito à diversidade, solidariedade sem restrição, democracia.

São diversos grupos com títulos diferentes e algumas diferenças programáticas, mas todos voltados para o mesmo fim: impor a ditadura de seus conceitos medievais. Repetindo bordões sempre ligados ao nome de Jesus, a quem dizem devotar suas vidas, esqueceram a capacidade humana da reflexão e do afeto para tornarem-se um exército de intolerantes, homofóbicos, e fundamentalistas religiosos. Possuem a convicção de que sua interpretação da Bíblia está mais correta do que qualquer outra e sua visão de mundo é infalível e historicamente precisa, mesmo quando todos os argumentos são contrários. São intolerantes a qualquer outra religião, comportamento ou moral diferente daquela ditada por sua igreja; buscam fervorosamente a conversão de toda humanidade eliminando assim a diversidade ideológica característica da comunidade humana. Tecnicamente, um exército de egos inflados!

artigo da Revista Época

Embora a radicalidade evangélica seja amplamente conhecida, a impetuosidade fundamentalista não era preocupante devido ao pequeno alcance de seus efeitos. Contudo os diversos cultos evangélicos explodiram no Brasil numa velocidade tão significativa que passamos a ter nossa cultura influenciada e ameaçada por essa fatia da nossa sociedade.


Artigo de Dani Nefussi

Em outras palavras, enquanto evangélico era aquele chato que parava as pessoas na rua para impor sua palavra de deus, ou aquele inflamado pastor que gritava numa pequena garagem em alguma esquina, ou ainda, aqueles donos de igrejas que exploravam pessoas miseráveis para garantir um enriquecimento ilícito, a sociedade brasileira ainda se mantinha distante de qualquer manifestação contrária. Apenas alguns pequenos grupos que sofriam discriminação dos evangélicos, clamavam por respeito.

Mas este cenário se transformou completamente sob nossas fuças e agora quando abrimos nossos olhos, já estamos com calças curtas!

Os pastores que gritavam nas pequenas garagens, continuam gritando, porém não só em uma garagem a cada esquina do Brasil, mais em salões enormes, estádios lotados, em várias rádios AM e FM e ainda nas televisões. Com exceção da Globo e do SBT, todas as outras emissoras da TV aberta possuem horários de sua grade alugados por igrejas evangélicas, fortunas pagas com o dinheiro dos fiéis. Não é necessário lembrar de um canal comprado por uma dessas igrejas. E, rendida ao mercado, a própria TV Globo criou o Festival Promessas, programa voltado para este público específico. Ainda em termos de comunicações, a internet está abarrotada de sites e blogs do assunto, assim como as redes sociais movimentam grupos gigantescos de participantes.

A situação é tão alarmante que em números conseguimos observar o poder de tiro que vem sendo organizado por essas tropas.

Quantos são afinal os evangélicos no Brasil?

Mais de 20% da nossa população, com quase 40 milhões de pessoas, este grupo diversificado está regido por princípios morais comuns. Muitos fatores levaram a esse resultado, que também é verificável nos EUA e com alguma expressão em outros países: a igreja evangélica brasileira é a maior exportadora de missionários no mundo. 

O crescimento do número de fiéis evangélicos corresponde à queda no número de fiéis do catolicismo, entre outros fatores. Trocamos seis por meia dúzia. Ou pior, pois embora o Brasil tenha a maior concentração de católicos do planeta, há o conveniente democrático de que grande porcentagem desses religiosos não são praticantes, o que não interfere na política econômica do país. Já o índice de evangélicos não praticantes (apenas simpatizantes), embora tenha crescido, é ainda ínfimo, tornando-se assim uma massa dogmatizada ativa, a segunda no mundo.

Assim como, aqueles poucos donos de igreja transformaram-se em inúmeros proprietários dos mais diferentes “ministérios”, com concentrações de renda muito mais do que significativas, gerando inclusive uma explosão de “franquias” para abertura de templos, todos, claro, sustentados por doações e, portanto, isentos de impostos. A legislação brasileira que veio por um lado se modernizando no quesito “respeito a diversidade de cultos”, acabou possibilitando essa festa do caqui. Através do artifício do DÍZIMO, a transferência de valores de muitos para poucos, ficou facilitada.

artigo de Dani Nefussi

Além do enriquecimento lícito e ilícito dessas igrejas, o próprio aumento de poder aquisitivo da população possibilitou a geração de um comércio crescente e forte totalmente voltado para os interesses desse grupo.

A indústria fonográfica tem sido um dos setores mais beneficiados pelos evangélicos que muito estimulam a atividade musical: o crescimento da música gospel foi tão significativo, apoiado pelo dogma de que crime é pecado e pirataria é crime, que gravadoras multinacionais como a Sony Music e a Som Livre passaram a investir pesado nesse nicho, aproveitando ainda o aumento do poder aquisitivo desse grupo. Nesse mesmo ritmo segue o setor editorial com enorme número de títulos e ainda toda uma produção de filmes evangélicos.

Um dos recursos dessas igrejas para a conquista e manutenção de fiéis é a criação de uma espécie de comercio “fechado” onde os compradores evangélicos só adquirem produtos dos vendedores evangélicos, e num esforço mútuo, o grupo gera um crescimento econômico, a exemplo de como os judeus fizeram por tanto tempo.

Dessa forma lojas oferecem descontos especiais para irmãos da religião, dedicam-se a produtos gospel como CDs, DVDs, TVs abertas, livros, filmes gospel, mobiliário para igrejas, vestimenta para evangélicos e moda gospel para jovens, revistas especializadas, itens de educação, cultura, entretenimento, jornais, e uma infinidade de produtos, vendidos tanto em lojas físicas como virtuais. A diversificação é tanta que chega ao turismo religioso (muito encontrado entre outros grupos religiosos e espiritualistas), com o ressurgimento de grandes caravanas organizadas por igrejas a locais descritos na Bíblia, e acompanhados por pastores e artistas conhecidos; cruzeiros marítimos com programação de palestras, ministrações, cultos e divertimentos cabíveis a moral evangélica.

BBC

Aliás consumo é uma palavra nada pecaminosa no mundo evangélico, pelo contrário, a grande diferença contra o catolicismo é que nessa nova igreja o objetivo de todos é a prosperidade material em vida e não mais esperar o camelo passar no buraco da agulha para comprar um iate ou helicóptero. Todos querem uma vida material confortável; desejo digno, o problema só é: a que custo?

E onde o dinheiro cresce, avoluma-se junto o poder. Difícil é saber quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha dos ovos de ouro.

As igrejas evangélicas estão ampliando seu poder de ação e sua ambição: além da tentativa obsessiva de adquirir fiéis para garantir os dízimos, outro objetivo compõe o belo quadro de interesses, o poder político.

A relação entre religião e política é tão antiga quanto é a própria religião; e sendo a ideologia evangélica filha da católica não poderia ser diferente. Vimos ao longo dos séculos uma igreja católica poderosa, disposta a qualquer artifício para garantir seu enriquecimento que tornou-se bem considerável. As netas evangélicas embora tenham aprendido bem a lição e herdado o mesmo DNA ainda não se dispuseram às mesmas armas empregadas anteriormente. Os tempos são outros e as armas são outras:

Deputada Lauriete cantando na Câmera Federal

Para surpresa do Brasil não evangélico, recentemente uma Deputada em data comemorativa dos 100 anos da criação da Assembléia de Deus, toma o microfone do PODER LEGISLATIVO para cantar uma música religiosa. Foi a maior manifestação de ousadia e irreverência que a representação dos grupos evangélicos já se deu ao desfrute de cometer: utilizar o espaço público de representatividade da sociedade brasileira para expressar culto religioso não foi uma expressão democrática e sim de autoritarismo perigoso. A citada Deputada deixou bem evidente que os grupos evangélicos são hoje uma faceta do poder político brasileiro e que estão dispostos, e fervorosamente dispostos, a impor seu comportamento, como lhes é de costume.

Na política do Brasil, a bancada evangélica constituiu uma frente parlamentar que defende os interesses das igrejas surgidas em passado recente, principalmente de igrejas pentecostais e neo-pentecostais, e seitas afins. Segundo o levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), houve um aumento de 50% na bancada evangélica na Câmara dos Deputados e no Senado em relação à legislatura anterior. A partir de 1º de fevereiro de 2012, a bancada foi composta de 63 deputados e três senadores, um deles hoje já é Ministro no governo Federal. Os representantes evangélicos estão distribuídos em diversos partidos políticos. A bancada evangélica representa a sua base, ou seja, a comunidade evangélica e seus ideais e tem feito oposição a aprovação de projetos que para eles ferem os preceitos bíblicos, como a legalização do aborto ou o reconhecimento pelo Estado da união civil entre homossexuais. Os parlamentares evangélicos nem sempre votam em bloco, pois representam correntes distintas no campo religioso e também no econômico e só falam a mesma língua em questões de conteúdo moral. Mas também defendem interesses pontuais: a bancada evangélica no Distrito Federal conseguiu instituir um feriado chamado Dia do Evangélico. 

O sociólogo Ricardo Mariano, estudioso do tema, afirmou que: "Mais de 40% dos membros da bancada evangélica estavam envolvidos no escândalo dos sanguessugas e isso repercutiu negativamente e prejudicou o grupo como um todo" e "desde os anões do orçamento já havia um histórico de participação de evangélicos em esquemas de corrupção, mas esse foi com certeza o maior e o estrago foi considerável"Vários integrantes foram acusados de práticas corruptas nas CPIs dos Correios e da compra de ambulâncias, em2005 e 2006.

A relação entre pastores e bispos evangélicos e corrupção é recorrente, e reconhecida internacionalmente. Embora nenhum dirigente acusado tenha permanecido preso por muito tempo, sabe DEUS porque, são inúmeros os processos contra os principais dirigentes, e outros para pastores. Processos e acusações não só de corrupção como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estupro, pedofilia, extorsão, charlatanismo e tantos outros que não são méritos exclusivos de dirigentes evangélicos mas recorrentes entre esses, revelando principalmente que os dogmas pregados são discursos vazios de práticas coerentes. 
Isso é só o começo de uma jornada com objetivos bem precisos: projeções da Sepal, uma organização voltada ao suporte de pastores e líderes, em 2020 a população evangélica no Brasil poderá chegar a 109 milhões de pessoas, algo próximo a 50% da população total do país. A igreja evangélica, nas suas várias configurações e derivações, tornou-se o melhor negócio no Brasil. "Templo é dinheiro", "Pequenas igrejas, grandes negócios". É a realidade econômica do nosso país e o fundamental é compreender o fenômeno menos do ponto de vista religioso/espiritual e mais politico/econômico. 


Certos ou não nas projeções, o fato é que o Brasil foi até hoje um país que se anunciou laico porém é cristão não só na sua maioria mas na sua conduta; agora transformou-se num campo de batalha da Idade Média entre os estabelecidos e o que protestam contra esse poder, mas que na verdade são todos voltados para a mesma ambição de enriquecer às custas da fé. O Brasil tem grandes chances de se tornar o "vaticano evangélico". A disputa evangélica pelo poder já vem acirrando cada vez mais e talvez ainda tenhamos a chance de escapar desse prognóstico se os próprios grupos se destruírem durante essa guerra, enforcando-se na própria corda.




Pelo que nos conta o mito, foi contra esse comportamento que o suposto Jesus se rebelou porque a prática de utilizar a religiosidade para fins materiais é anterior à própria bíblia. 

Fé não tem nada a ver com religião. 
Deus, nada a ver com igreja. 

Religião é política e se cruzarmos os braços, divididos entre partidos sem propostas estabelecidas, em breve veremos crescer mais um exemplo como os que a historia já nos mostrou: uma política frágil nas mãos de fanáticos racistas e fundamentalistas dispostos a eliminar seus diferentes. 

Não vamos nos iludir que essas pessoas que hoje falam de um amor por seu ídolo, amanhã não serão capazes de matar em nome de Deus. 

Será que nunca vamos aprender a mesma lição?





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