Estamos finalmente mergulhados no misterioso 2012, o ano astrológico se inicia, a lua é cheia; não tem mais volta. E neste fim de mundo a páscoa cristã vai acontecer junto com a pessach judaica, muito próximas estarão essas festas.
E muito próximas são as metáforas que envolvem cada um desses rituais.
A PESSACH (passagem) judaica está relacionada à saída do povo judeu do Egito, onde viveu tantos anos escravizado. Embora no senso comum acredite-se que o simbolismo esteja relacionado ao percurso/passagem pelo deserto, com a espetaculosa abertura do mar vermelho, observando mais profundamente descobrimos que a “passagem” a qual a pessach se refere é outra.
Deus teria jogado 10 pragas sobre o Egito em conseqüência da arrogância e tirania do faraó governante, que inclusive escravizou o povo judeu contra a vontade do Supremo. Após 9 pragas antes da décima que seria a morte de todos os primogênitos existentes, humanos ou não, Moisés, líder do povo oprimido, foi instruído a realizar um ritual que protegeria o povo judeu da ultima praga. Todas as famílias hebreas deveriam sacrificar cordeiros e banhar os umbrais de suas casas com o sangue dos animais. A matança foi feita e quando o Anjo da Morte passou pela terra, executou os primogênitos entre humanos e animais, poupando a vida das famílias judias. Sobre pressão o faraó concedeu a partida do povo judeu em direção ao deserto.
O sentido da palavra pessach está então relacionado à passagem do Anjo da Morte e é esse o sentido profundo desse momento espiritual. Nos ensinamentos mais antigos da mística judaica encontramos o entendimento simbólico de cada passagem do livro sagrado. Neste caso o faraó está representando o Ego humano com sua arrogância e soberba, disposto a reinar único, acima do próprio Espírito que anima o ser. Essa centralização da nossa psique profunda no Ego, que deve compô-la, porém não dominá-la, nos leva a uma prisão, a verdadeira escravidão que o homem pode ter. O homem aprisionado não é aquele encerrado nas cadeias físicas. A libertação é a capacidade de descentralizar o Ego recuperando o encontro com a totalidade do ser. A experiência de descentralização é para o Ego uma experiência de morte porque sua “auto-imagem” será modificada para a compreensão de sua nova colocação e seu renascimento portanto.
Em pessach devemos permitir a morte do Ego, nos lançando no deserto, vazio de desejos e sensações, para após todo um percurso de limpezas, purificações, chegarmos a nossa terra prometida, que nada mais é do que o reencontro consigo mesmo, num nível de consciência mais profundo, ou iluminado.
A PÁSCOA cristã traz exatamente a mesma metáfora da morte e do renascimento para a junção do homem com o divino. Embora traga outras implicações desenvolvidas pela Igreja com o passar dos anos, a experiência mística tem a mesma finalidade: a figura exemplar de Jesus realiza o percurso do sacrifício, porém aqui o cordeiro é o próprio homem que derrama seu sangue. Como na outra historia, a morte do cordeiro serve para impedir a morte do povo, e, assim, entende-se a morte do Cristo por toda humanidade. E depois sua ressurreição comprovando sua condição supra humana, a presença de Deus dentro de si, o sentido de sua mensagem.
Infelizmente a Igreja modificou o sentido da metáfora e deu a Jesus a responsabilidade de filho do Deus ou do próprio transcendente, diferenciando-o de todos os outros homens, o que destruiu seu próprio trabalho. O que a metáfora cristã oferecia era um exemplo a ser revivido por todos e cada um, dentro. Uma vez que Jesus tornou-se o Cristo e sacrificou-se por todos, libertando a todos na sua ação, tirou de cada um a responsabilidade de experimentar em si a morte e renascimento, tirou de cada um a experiência vivida para torná-la uma experiência “projetada”, que não traz sabedoria porque elimina definitivamente a possibilidade de contato interno. Projetados na experiência alheia nos tornamos vazios e manipuláveis. Ninguém pode morrer por ninguém, nascemos e morremos absolutamente sós e por nós mesmos, não há como fazer de outra forma; projetada fora da consciência, da presença, da imanência, a experiência torna-se transcendente.
Assim como a religião judaica concentrou seu entendimento na vitimização do povo aprisionado e sua libertação, digna de povo vingado e eleito, tirando de cada um o entendimento de que o Ego não deve ser assassinado mas apenas descentralizado e portanto não há o mal, tirano, e o bem, vítima. O que existem são forças coadjuvantes para um mesmo fim. Quando a religião escolhe dar ao seu povo o papel de vítima do outro, tira de cada um a responsabilidade sobre sua própria morte porque o faraó não está fora e nem é de "outra raça", diferente de nós mesmos.
As religiões tem a função de nos desviar do sentido esotérico que nossas mitologias solicitam e nos ensinam. Os caminhos estão iluminados, deus está em todo lado, mas as interpretações estabelecidas, impostas, criaram sombras, vendas e geraram confusão nos afastando de nós mesmos. Nós temos as respostas foi o que disse Jesus, temos o poder disse Moisés, fazemos milagres afirmaram os dois.
Este é o fim do mundo,
momento mais do que propício para a morte.
Vamos finalizar realmente,
morrer sinceramente,
descentralizar nossos desejos de controle e poder,
descentralizar nosso Medo/Diabo,
pois só assim seremos capazes de viver
sem crenças,
sem vendas,
realmente livres,
donos da nossa terra/corpo/vida prometida,
valorosa.
Podemos nos fazer ouro,
luz.
Não sem um deserto de incertezas,
medos, sofrimentos, vergonhas,
mas vencedores sobre o próprio sangue,
magos da nossa própria existência.
Divinos sim.
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