A FUNÇÃO DO DIABO

Depois de DEUS e do HOMEM,

o terceiro “ser” mais famoso da existência dos mundos é ele:

o DIABO.

A existência do primeiro, solitária e tediosa exigiu o segundo.

Apesar de o HOMEM ter sido criado depois de um monte de coisas,

só ele recebeu o lugar de destaque,

de “Obra Prima”,

de “brother” do Supremo para aqueles papos que só bons amigos têm.

Tanto foi um caso a parte a criação do humano

que gerou ciúmes nos mais adeptos devotos

e como toda parceria precisa do terceiro elemento

pra gerar movimento,

alguém resolveu assumir por toda a eternidade,

esse papel de ADVERSÁRIO.

Esse alguém atendia pelo nome de LÚCIFER,

derivado de luz talvez,

e, dizem, o mais fiel entre os anjos.

Nas facetas mais terríveis ganha o nome de Satan ou Satanás,

mas seu título pop é DIABO.

Em alguns momentos, dos tempos antigos,

essa figura aparece como DÚVIDA,

talvez do próprio Criador,

como em Jó, do Antigo Testamento:

o DIABO, num papinho sobre ética e mérito com o Divino,

questiona a integridade de Jó

(talvez até DEUS tenha aquele diabinho no pé da orelha

provocando os maus pensamentos, buscando as provas de fidelidade),

e assim se dá a saga de Jó, modelo de HOMEM.

Talvez o DIABO seja a dúvida de DEUS.

Ou talvez tenha sido mesmo um anjo, o melhor entre eles,

que no seu LIVRE ARBÍTRIO escolheu

um OUTRO caminho para sua existência...

mas não são só os homens que tem livre arbítrio?

Bom, então o anjinho malvado fez sua escolha

sem direito a ela e seguiu “fora do caminho”.

E por essa escolha, tudo que é fora-do-caminho

ou OUTRO caminho,

acaba recebendo um valor diabólico:

a mulher, o deficiente, o estrangeiro, o diferente, o fora-da-lei,

o assassino, o negro, o descontrolado, o milionário,

o de outra religião, o inimigo.....

enfim, qualquer característica

que não seja identificada com o UM/DEUS,

torna-se automaticamente o OUTRO/DIABO.

A divisão da fama entre os 3 participantes

do reality show da existência é acirrada:

DEUS tem o lugar de glória, o cinturão de ouro.

Mesmo no mundo politeísta

embora tenha que dividir a cena com vários coadjuvantes,

tem sempre uma figura central que configura seu cetro.

Logo a seguir vem a melhor parte da corrida, da disputa,

da concorrida vaga de filho predileto,

embora às vezes até pareça uma disputa pelo próprio cinturão:

numa batalha sangrenta

seguem sempre o HOMEM e o DIABO lutando,

com armas totalmente díspares.

E díspares são também as desvantagens de quem perder,

pois um luta pela própria vida, finita,

e outro luta apenas para gerar a batalha.

Eis então a função do DIABO.

Há quem acredite que ele pretende controlar o mundo,

que na sua vingança quer o lugar de DEUS,

eliminar sua Fonte e reinar absoluto.

Há quem acredite que o DIABO quer ser DEUS.

Se assim for estaremos a salvos do tormento infinito,

pois é natural que se compreenda que se o DIABO for DEUS

para isso ele terá de ser Supremo para vencer o Supremo;

terá de ser Poderoso para vencer o Poderoso;

terá de ser Sábio para vencer o Sábio;

enfim, terá de ser Absoluto,

e quando assim o for já não será mais o DIABO.

Fim da dúvida.

Ainda assim há quem acredite que o DIABO consiga vencer a luta permanecendo o DIABO,

como se o mal pudesse vencer o bem.

É aí que o pensamento embaralha.

Talvez DEUS seja o BEM e o DIABO seja o MAL,

e o HOMEM viva entre o BEM e o MAL.

Viver ENTRE significa não ser um nem outro;

caso o HOMEM se torne o bem será ele DEUS,

ou o mal será ele o DIABO,

e num caso ou noutro deixará de ser HOMEM.

Para continuar sendo HOMEM deve permanecer ENTRE.

E COMO é ser entre???

É ser os dois lados ao mesmo tempo, num revezamento contínuo?

Ou será que é ter um lado em atividade e outro na inatividade,

um na luz e outro na sombra?

Um na consciência e outro no inconsciente?

A FUNÇÃO DO DIABO é nos lembrar que não somos DEUS.

A FUNÇÃO DO DIABO é aterrorizar aqueles que querem respostas definitivas.

A FUNÇÃO DO DIABO é polarizar para que haja movimento.

A FUNÇÃO DO DIABO é divertir quem duvida.

A FUNÇÃO DO DIABO é exigir a escolha.

A FUNÇÃO DO DIABO é nos lembrar que somos o CAMINHO DO MEIO.